Brasil avança rumo à autossuficiência energética até 2035, aponta o PDE 2035

Brasil caminha para a autossuficiência energética até 2035 com gás natural, refino e SAF

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O Brasil está prestes a dar um salto histórico rumo à autossuficiência energética até 2035. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2035 (PDE 2035), elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o país deve ampliar fortemente a produção de gás natural, modernizar o refino nacional e reduzir de forma significativa a dependência de derivados de petróleo importados.

Esse movimento transforma a matriz energética brasileira, fortalece a segurança energética, impulsiona a industrialização e cria oportunidades relevantes para a economia, investidores e o setor produtivo.

Produção de gás natural deve crescer quase 100% até 2035

Segundo o Caderno de Gás Natural do PDE 2035, a produção nacional deverá crescer 95% nos próximos dez anos, alcançando cerca de 127 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) em 2035. Atualmente, o Brasil produz aproximadamente 65 milhões de m³/dia, o que evidencia a dimensão da expansão projetada.

Pré-sal e novos projetos offshore impulsionam a oferta

O crescimento da produção de gás natural será sustentado principalmente pelo desenvolvimento do pré-sal e pela entrada de novos projetos de processamento offshore, que devem gerar um superávit estrutural de oferta ao longo da próxima década.

O MME considera o gás natural um dos principais vetores de industrialização do país, integrando o programa “Gás para Empregar”. Segundo o ministro Alexandre Silveira, o Brasil reúne condições favoráveis para ampliar a produção nacional, fortalecer a infraestrutura e garantir abastecimento seguro, competitivo e previsível.

Infraestrutura de gás natural exige investimentos bilionários

Apesar do avanço da produção, o PDE 2035 aponta desafios relevantes na infraestrutura de transporte e distribuição. A Região Sudeste continuará concentrando cerca de 70% da oferta nacional, devido à presença dos principais polos de processamento.

A oferta potencial da malha integrada deve crescer aproximadamente 85%, mas será necessário eliminar gargalos para levar o gás do Sudeste para o Centro-Oeste, Sul e interior de São Paulo.

Projetos estratégicos e volume de investimentos

Os investimentos previstos em projetos próximos da operação somam cerca de R$ 16 bilhões, incluindo:

  • O gasoduto de escoamento Raia

  • O projeto Sergipe Águas Profundas

  • O Terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) de Suape, em Pernambuco

Além disso, projetos indicativos totalizam cerca de R$ 34 bilhões, e estudos da EPE apontam que o potencial de investimentos adicionais pode chegar a R$ 135 bilhões ao longo do período.

Brasil reduz dependência do gás boliviano e fortalece mercado interno

O PDE 2035 também mostra uma redução expressiva da dependência de gás importado da Bolívia via Gasoduto Bolívia–Brasil (GASBOL). A importação deve cair de 13 milhões de m³/dia em 2025 para cerca de 5 milhões de m³/dia em 2035.

Essa queda reforça a necessidade de integração das malhas regionais e expansão do transporte nacional, aumentando a resiliência do sistema energético brasileiro.

Do lado da demanda, o consumo de gás natural deve crescer cerca de 6,2% ao ano, liderado pela indústria, responsável por 65% da demanda não termelétrica. Os setores comercial, residencial, de transportes e downstream também devem registrar crescimento consistente. Mesmo assim, o PDE 2035 projeta oferta superior à demanda em todos os anos até 2035.

Refino nacional reduz dependência de derivados de petróleo

No Caderno de Abastecimento de Derivados de Petróleo, o PDE 2035 destaca a otimização do parque de refino nacional como pilar central da redução das importações. Embora o Brasil continue sendo importador líquido de derivados, o volume projetado para 2035 (36 mil m³/dia) será significativamente menor que o pico histórico de 79 mil m³/dia, registrado em 2017.

Produção de nafta cresce e reduz importações

A dependência brasileira da nafta, insumo estratégico da indústria petroquímica, deve cair de 59% em 2025 para 29% em 2035. Isso representa uma redução de aproximadamente 11 mil m³/dia nas importações, impulsionada por:

  • Estabilidade da demanda das centrais petroquímicas

  • Crescimento de quase 80% da produção nacional

Projetos como o Complexo de Energias Boaventura e a ampliação da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) são determinantes nesse avanço. A Rnest contará parcialmente com energia solar e destinará 70% de sua capacidade à produção de diesel S10, atendendo cerca de 17% da demanda nacional.

Menor dependência externa do querosene de aviação (QAV)

Outro derivado estratégico é o querosene de aviação (QAV). O PDE 2035 projeta que as importações líquidas cairão de 18% para apenas 4% até 2035. A produção nacional deve crescer de 16 mil para 19 mil m³/dia, com destaque para o Complexo Boaventura.

Além disso, a estagnação do consumo do QAV tradicional, motivada pelas metas globais de redução de emissões, contribui para a queda da dependência externa.

Biocombustíveis e o avanço do SAF no Brasil

O Caderno de Oferta de Biocombustíveis destaca o crescimento do Combustível Sustentável de Aviação (SAF) como um dos principais vetores da transição energética. Estão previstos nove projetos de biorrefinarias, com capacidade estimada de:

  • 1,7 bilhão de litros por ano a partir de 2030

  • Cerca de 2,8 bilhões de litros por ano em 2035

O SAF consolida o Brasil como um dos países mais bem posicionados no mundo para liderar soluções energéticas de baixo carbono, aproveitando sua base agrícola e experiência em biocombustíveis.

O que o PDE 2035 revela sobre o futuro energético do Brasil

As projeções do PDE 2035 desenham um futuro energético focado em autossuficiência, modernização e competitividade internacional. O avanço do gás natural do pré-sal garante segurança energética e impulso industrial, enquanto os investimentos em refino e biocombustíveis avançados, como o SAF, reduzem a dependência externa de produtos estratégicos.

O Brasil deixa de ser apenas um país que busca cobrir déficits energéticos e avança para se tornar uma nação capaz de suprir sua própria demanda, com produção interna ampliada, sustentável e alinhada às exigências da economia do futuro.

Com gás natural, refino eficiente e biocombustíveis, a energia assume papel central na estratégia de desenvolvimento do Brasil até 2035 — um movimento que interessa a cidadãos, investidores e empreendedores atentos ao longo prazo.

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